A antropóloga do consumo Hilaine Yaccoub se atentou ao quanto uma restrição alimentar pode ser frustrante, principalmente na vida em sociedade, por conta de uma intolerância à lactose do marido, que o fez comer um prato de salada (e nada mais) em uma pizzaria.
Assim como ela, os negócios que se dedicam a atender um público mais exigente ou com restrições em relação à alimentação também tiveram origem em histórias de pessoas próximas de seus fundadores, relatou ao se apresentar Conarec, congresso internacional de relacionamento empresas e clientes, promovido pelo Grupo Padrão, em São Paulo. “Estamos passando por uma transformação sobre o que significa comer, e como o mercado está se posicionando?”questiona, lembrando que comer passou a ser também um posicionamento político, com o aumento de vegetarianos e veganos, ou pessoas preocupadas em consumir localmente, ou abandonar alimentos questionáveis como industrializados, transgênicos, açúcar e refrigerante.
Hilaine destaca uma pesquisa da Euromonitor que apontou a movimentação no mercado de alimentos saudáveis ultrapassando os R$ 63 bilhões de reais em 2018. Nos próximos dois anos, esse segmento deve crescer mais de 30%, o que pode fazer com que o Brasil avance algumas posições à frente da 6ª que ocupa hoje no ranking dos principais mercados de alimentos e bebidas saudáveis.
Sua palestra “A intolerância com os intolerantes”, sobre a questão do aumento da diversidade também na alimentação, abordou como esse cenário pode ser uma oportunidade, não apenas de um novo negócio, mas para ampliar o relacionamento com os clientes. “Hoje se fala tanto em diversidade, de gênero, de religião, de origem, de culturas, mas a questão alimentar ainda é deixada de lado”, apontou Hlaine. Para a antropóloga, a oferta de uma única opção no cardápio, com sabor de exceção, faz com que suas restrições ou condições como consumidor sejam excludentes.
“Dentro do conceito de pós consumidor, a indústria alimentícia tem que perceber que existe esse mercado e, segundo, que as pessoas querem ser incluídas, sem adaptações”, alertou. Segundo ela, é agressivo quando o mercado não abarca, não endossa ou não recebe quem tem alguma posição em relação à comida. “É impressionante como se perde mercado por não olhar essas pessoas de forma empática e verdadeira”, diz, ressaltando que o comer está ligado aos aspectos fisiológicos, com certeza, mas também a aspectos culturais fortíssimos e que a intolerância com os intolerantes gera um sentimento de rejeição, marginalização, e de não adequação do consumidor.
Fonte: Portal Consumidor Moderno