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Ela superou a falência e abriu uma rede de franquias de R$ 93 mil

14 janeiro, 2018

Jane Muniz abriu o primeiro negócio aos 18 anos de idade. Superando seus erros, ela é hoje dona do Spa das Sobrancelhas, com 450 franquias comercializadas.

São Paulo – A falência é uma experiência traumática na vida de um empreendedor – especialmente quando ele ainda está começando no mundo dos negócios. Jane Muniz teve sua primeira experiência com o empreendedorismo aos 18 anos de idade e, três anos depois, enfrentaria a quebra de seu salão de beleza.

Para ela, tudo parecia perdido. Mas, no lugar de desistir, resolveu aprender com os erros do passado e se reerguer como possível, assumindo suas dúvidas e reabrindo seu salão.

Hoje, aos 37 anos de idade, ela é dona da rede de franquias Spa das Sobrancelhas. Com cerca de 450 franquias comercializadas, o negócio faturou 93 milhões de reais em 2017.
Dos bicos ao primeiro negócio

Moradora de Madureira, na zona norte do Rio de Janeiro, Muniz perdeu a mãe cedo. Aos oito anos de idade, teve de começar a trabalhar.

“O que meu pai ganhava servia para colocar o básico em casa, para mim e para meus irmãos. Meus primeiros bicos foram para ter meu próprio dinheiro, poder comprar doces e eventualmente alguma roupa. Eram atividades que eu dava conta de fazer naquela idade, como carregar água para os vizinhos e arear panelas. Depois, cuidei de crianças menores e fiz faxinas”, conta a futura empreendedora.

Aos 13 anos de idade, Muniz teve seu primeiro emprego no comércio, vendendo bijuterias. A partir daí, passou anos como vendedora em diversos ramos, aprendendo sobre diversos tipos de produtos e sobre como lidar com perfis variados de clientes.

Sua primeira empreitada no empreendedorismo foi decidir viajar até São Paulo para comprar produtos de beleza e revender no Rio. Aos 18 anos de idade, pediu um empréstimo ao pai, que havia juntado dois mil reais para sua aposentadoria. Porém, logo percebeu os erros de iniciante que cometeu na jornada.

“Fui de ônibus, consegui me achar e gastei todo o dinheiro que tinha. Porém, percebi como não fiz as contas básicas, como descontar os gastos com viagem e alimentação”, afirma. “Consegui vender tudo no Rio com uma boa margem, de até três vezes o valor que paguei, mas não tinha a mesma firmeza para cobrar dos amigos que compraram. Acabei com um grande prejuízo.”

Muniz não desistiu: um ano depois, decidiu montar uma loja própria. Junto com uma sócia, conseguiu um espaço dentro de uma loja de cama, mesa e banho para vender brinquedos e presentes.

“Essa loja tinha sido muito forte antigamente. Com a chegada dos shopping centers, os centros de rua tinham de se reinventar. Conheci o dono e perguntei quanto ele faturava em um certo pedaço da loja, que não tinha nenhuma gôndola. Propus, então, que ele recebesse um pequeno aluguel no lugar de faturar nada, e consegui montar um espaço para as minhas mercadorias”, conta.

Desentendimentos com a sócia, porém, levaram Muniz a sair da sociedade um ano depois, mesmo com o espaço de mercadorias crescendo. Enquanto procurava outro tipo de empreendimento, Muniz trabalhou como gerente comercial em uma empresa de produtos para salões de beleza. Daí surgiu o embrião de uma grande ideia de negócio.

O mundo da beleza: queda e crescimento

“Sempre fui inclinada para área de autoestima, beleza e bem-estar, apesar de nunca ter tido recursos para usar os produtos que eu queria, como creme para cabelos e hidratantes”, conta Muniz. Como gerente comercial, ela visitava salões de beleza e vendia produtos para serem aplicados na hora. Sentia-se realizada ao ver as consumidoras felizes com o resultado alcançado pela indicação dos itens.

Após oito meses como gerente comercial, Muniz resolveu abrir seu próprio salão de beleza. Seu marido, Marko Porto, havia acabado de fechar sua loja de materiais elétricos e tinha algumas economias. Ambos fizeram cursos na área de beleza e abriram juntos o salão de beleza, em 2002, com um investimento de 10 mil reais.

“Nesse salão, tudo ia muito bem. Eu tinha muita paixão e as pessoas gostavam do nosso serviço. Um ano depois, uma cliente nos ofereceu a venda de um salão já montado. Meu marido quis apostar, enquanto eu achava que não era ainda a hora de dividir energia e profissionais”, conta Muniz.

As previsões da empreendedora eram acertadas: após seis meses de operação dos dois salões, ambos estavam quebrados. Os clientes não recebiam a atenção devida com a divisão e os custos eram dobrados. Ela e o marido deviam contas de aluguel, água, luz e telefone, além de fornecedores e funcionários. Ao todo, eram 30 mil reais em dívidas.

Enquanto Porto voltou a ser vendedor, comercializando peixes para assegurar a sobrevivência financeira da família, Muniz pensava em seu histórico e tinha medo de empreender novamente. Em uma visita à ex-sócia da loja de brinquedos e presentes, Muniz percebeu o quanto estava diferente da empreendedora que sempre foi.

“Minha ex-sócia me olhou firme nos olhos e perguntou onde estava a Jane que ela conhecia. Arrepiei e acordei. Eu estava tão no escuro que não conseguia me ver”, conta. “Cheguei em casa, conversei com meu marido cinco meses depois de nossa falência e disse que iria reabrir o salão.”

Muniz conseguiu contratar profissionais que sabiam da situação complicada da empreendedora e recomeçou seu negócio. Ela ficava na porta do estabelecimento, produzida, para atrair novos clientes. Nos dias que não conseguia dinheiro para o almoço, levava biscoitos.

Com o tempo, o empreendimento começou a crescer novamente e fidelizar clientes, inclusive fazendo com que o marido da empreendedora pudesse voltar como sócio do salão.

No negócio, Muniz e Porto perceberam uma tendência: a demanda por serviços de sobrancelha. “A maioria dos salões não quer fazer procedimentos baratos, como a sobrancelha, que serve apenas como chamariz para serviços de progressiva e química. Mas, como a gente fazia um serviço tão adequado, com sala de estética própria e massagem anestésica, a demanda das clientes foi aumentando.”

Muniz não esperava se especializar nesse tipo de serviço, por conta do ticket médio com pouco valor agregado. Porém, ao parar para fazer as contas, percebeu os benefícios financeiros: é possível fazer várias sobrancelhas nas horas que uma química demoraria; e há uma grande recorrência das consumidoras, que não querem perder o formato da sobrancelha.

O casal fez um teste: Porto alugou dois espaços em diferentes clínicas de estética na cidade do Rio de Janeiro e ofereceu o serviço de sobrancelha para quem passava pelo local. A resposta foi tanta que Muniz e Porto venderam o salão, que então tinha já 16 funcionários, para investir na ideia, que se chamaria Spa das Sobrancelhas.

O ano era 2006, quando negócios especializados em embelezamento do olhar não eram comuns. “As pessoas nos chamaram de malucos, diziam que íamos morrer de fome. Mas estávamos convictos de que não era apenas uma aventura, e sim um nicho novo de mercado que poderia ser trabalhado como franquia.”

Após consultorias do Sebrae e registros de patente, o Spa das Sobrancelhas abriu sua primeira unidade. Um ano depois, a demanda dos clientes levou a uma segunda loja. A terceira unidade já foi aberta pelo sistema de franquias, para testar a transmissão do know-how do setor.

Hoje, o Spa das Sobrancelhas já possui mais de 450 lojas comercializadas e atende 2 milhões de mulheres no ano. “Agora, há vários concorrentes, entre empresas e profissionais autônomos. Mas não acompanhamos a moda: a gente se volta ainda mais para a qualidade do serviço que a gente oferece e da individualidade das pessoas, fazendo um serviço de embelezamento do olhar que envolve não só sobrancelhas, mas olhos, cílios e pele”, afirma Muniz.

A rede de franquias faturou 93 milhões de reais em 2017. Para 2018, a meta é crescer 10% sobre o ano passado, focando na expansão por meio de quem já é franqueado.

Fonte: Exame.com

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